(Re)fazendo diferenças de classe em movimento. A classe média brasileira em Londres
Autor | Angelo Martins Jr |
Páginas | 165-180 |
[ 165 ]
Martins Junior, A.
“(Re)haciendo diferencias de clase en movimiento: la clase media brasileña en Londres” | pp. 165-180
(Re)haciendo diferencias de clase en movimiento
La clase media brasileña en Londres
(Re)fazendo diferenças de classe em movimento
A classe média brasileira em Londres
Angelo Martins Junior | ORCID: orcid.org/0000-0002-0878-8096
angelo.martinsjunior@bristol.ac.uk
University of Bristol
Reino Unido
Recibido: 30/05/2020
Aprobado: 09/07/2020
Resumen
Este artículo analiza el papel de la clase social
(intersectada con género, raza y espacio) en la
producción y negociación de la diferencia en un
contexto de movilidad transnacional. Sin tomar
de antemano el origen étnico comparido, resul-
tando en la consitución de comunidades trans-
nacionales unificadas y solidarias, este artículo
demuestra cómo los brasileños de clase media ne-
gocian las representaciones esigmaizadas de cla-
se (y racializadas) del migrante en la producción
de diferencias sociales en Londres. Las diferencias
de clase se producen a medida que las jornadas
migratorias del grupo analizado son construida
y entendidas como una experiencia cultural y de
vida (cosmopolita), alejándose así de las represen-
taciones de la comunidad brasileña y del migrante
brasileño, entendido como el trabajador migran-
te/pobre que vive en la comunidad transnacio-
nal. Dicha diferenciación se produce a parir de
una evaluación coninua de sus vidas en Londres
(aquí) en referencia a Brasil (allá). Relexionar so-
bre su posición aquí y allá generalmente permite
a los brasileños de clase media disinguirse a sí
mismos en comparación con sus compatriotas
en Londres, en un contexto políico y social que
esigmaiza los migrantes y las comunidades.
Tal relexión también produce frustración, enojo
y ambivalencia, ya que la migración a menudo
confunde las demarcaciones de clase que históri-
camente garanizaban disinciones para muchos
de estos brasileños en Brasil.
Palabras clave: Clase social, Brasileños en
Londres, Transnacionalismo.
Resumo
Este arigo analisa o papel da classe social (in-
terseccionada com gênero, raça e espaço) na
produção e negociação da diferença em um con-
texto de mobilidade transnacional. Para além dos
debates que tomam de antemão etnia e/ou nacio-
nalidade comparilhadas que resultam na consi-
tuição de comunidades transnacionais unificadas
e solidárias, este arigo demonstra como brasilei-
ros de classe média negociam as representações
esigmaizadas de classe (e racializadas) do mi-
grante na produção de diferenciações sociais em
Londres. Diferenças de classe são produzidas na
medida em que as jornadas migratórias do grupo
analisado são construídas e entendidas como uma
experiência cultural e de vida (cosmopolita), dis-
tanciando-se assim das representações da comuni-
dade brasileira e do migrante brasileiro, entendi-
dos como o pobre/migrante-trabalhador vivendo
na comunidade transnacional. Tal diferenciação
ocorre a parir de uma avaliação contínua de suas
vidas em Londres (aqui) em referência ao Brasil
(lá). Releir sobre o posicionamento deles aqui e
lá geralmente permite com que brasileiros da clas-
se média se valorizem em comparação aos seus
compatriotas em Londres, num contexto políico
e social que esigmaiza migrantes e comunidades.
Tal relexão também produz frustração, raiva e
ambivalências, uma vez que a migração frequen-
temente embaralha as demarcações de classe que
historicamente garaniam disinções a muitos
desses brasileiros no Brasil.
Palavras-chave: Classe social, Brasileiros em
Londres; Transnacionalismo
[ 166 ] RevIISE | Vol. 16, Año 14 | octubre 2020 - marzo 2021 | Dossier Migraciones y clases sociales
ISSN: 2250-5555 | Argentina | www.reviise.unsj.edu.ar
Introdução
Existe a comunidade brasileira aqui, mas eu não faço parte
dela. O migrante é a pessoa fodida, pobre, fazendo subempregos.
Eu não sou assim. Pode ser um preconceito de classe meu, mas
temos vidas diferentes. (Elisa)
Minha conversa com Elisa, brasileira de cla-
sse média que trabalha na indústria criaiva
britânica, aconteceu durante a festa de abertura
do Brazilian Film Fesival de Londres, em 2014.
Durante nossa conversa, Elisa dizia estar par-
icipando do fesival por ser amiga dos organi-
zadores, uma vez que não frequentava eventos
voltados à comunidade brasileira. Sua percepção
em relação ao migrante brasileiro, definidos
como os pobres realizando subemprego e vivendo
na comunidade, relete algumas das maneiras
pelas quais brasileiros em Londres constroem a
figura do migrante e da comunidade em relação
à classe social. Tal construção frequentemente
resulta em narraivas sobre divisões de classe e
conlitos existentes entre brasileiros em Londres,
ao invés de falas sobre uma comunidade brasilei-
ra que se ajuda por afinidades étnicas/nacionais.
Assim, para além das suposições acadêmicas de
que etnia e/ou nacionalidade comparilhadas
resultariam automaicamente na consituição
de comunidades transnacionais unificadas e so-
lidárias (Levitt, 2001 e Djelic e Quack, 2010), este
arigo analisa o papel da classe social na produ-
ção e negociação da diferença em um contexto
migratório. Focando na experiência e narraivas
de brasileiros de classe média (maioria autoiden-
ificada como branca), discuto, mais especifica-
mente, como diferenças de classe (intersecciona-
da com gênero, raça e espaço) são (re)produzidas
e negociadas na criação de divisões sociais entre
brasileiros em Londres.
Acadêmicos têm demonstrado como debates
transnacionais frequentemente não levam em
consideração as múliplas diferenças existentes
entre migrantes (Grosfoguel et al., 2014 e Amin,
2012). Assim, representações homogeneizantes
do migrante transnacional como um ator que
lui por redes sociais étnicas, buscando melhores
oportunidades de vida e vivendo em comunida-
des onde as relações são baseadas na solidarie-
dade étnica, coninuam a ser reproduzidas em
muitos estudos. Mais do que um grupo homogê-
neo que fala a respeito de uma associação e per-
tencimento à uma comunidade étnica/nacional,
as narraivas apresentadas neste arigo demons-
tram como diferenças de classe são centrais nas
maneiras pelas quais esses brasileiros não só
categorizam os espaços da cidade, mas também
como se relacionam uns com os outros dentro de
um contexto políico e social, britânico, que es-
igmaiza migrantes e comunidades.
Apesar de toda intensidade e diversidade de
pessoas circulando pelo mundo (Vertovec, 2007),
discursos populares e políicos, bem como deba-
tes acadêmicos, coninuam a oferecer comentá-
rios totalizantes e indiferenciados sobre migran-
tes e migração. Isso relete, em parte, a ausência
de uma definição clara (mesmo na lei) dos termos
migrante e migração (Anderson e Blinder, 2012).
O termo migrante é frouxamente uilizado em
discursos públicos e políicos e, geralmente, é o
fato de que determinadas pessoas se moveram
de maneiras e locais específicos que as tornam
legíveis como migrantes. Sua idenificação como
tal frequentemente mistura questões de status de
imigração com nacionalidade, raça/etnia, moivo
pra migrar e classe (Andersson, 2014). Assim, o
termo migrante, roineiramente, é inligido com
suposições racistas, classistas e xenófobas onde
indivíduos e grupos pariculares são categoriza-
dos e esigmaizados como uma ameaça à cultu-
ra, valores, segurança, saúde e economia nacio-
nal (Sayad, 2004 e Tyler, 2013). Alguns políicos
e parte da mídia britânica, por exemplo, diaria-
mente representam o migrante como um para-
sita que migrou em busca de ganhos econômicos;
uma ameaça aos recursos nacionais (Tyler, 2013: 9).
No cerne desse ipo de discurso, migrantes e co-
munidades, num mundo pós-colonial, são esig-
maizados como corpos e espaços incivilizados,
degradados, dentro do mundo ocidental civiliza-
do (Bhabha, 2019). Ao chegarem ao Reino Unido,
os brasileiros se deparam com, e precisam nego-
ciar, tal representação de classe (e racializada) do
migran te.
Neste arigo, demonstro como brasileiros de
classe-média negociam e buscam se distanciar
dessas caracterísicas de classe (e racializadas)
presentes nas representações do migrante e da
comunidade, resultando em diferenciações so-
ciais entre os brasileiros em Londres; eles assim
o fazem avaliando coninuamente suas vidas em
Londres (aqui) em referência ao Brasil (lá). Como
Para continuar leyendo
Solicita tu prueba